ROMANCE HENDECASSÍLABO
Se alguma vez, Euterpe soberana,
De teu métrico influxo a fértil veia
A meu ardente rogo áureas enchentes
Do licor desatou, que o monte rega,
Generosa ambição hoje ocupando
O mais nobre desejo tanto empenha
A Deidade imortal, que em ti contemplo
Que é meu o assunto, sendo tua a empresa.
Repara, advertes aquele excelso Trono,
Em cuja adoração parece ajoelha
Reverente o respeito em tantos Astros,
Que igualmente o iluminam, como o cercam.
Desafiando a esplêndida morada
Desse brilhante campo das Estrelas,
Imagino que intentam seus fulgores
Ser em quadros de luz do Sol esfera.
Essa pompa que vês, esse aparato
Enobrece a Deidade mais excelsa,
Heroína imortal, eterno lustre
Da sagrada seráfica obediência.
Aquela, em cujos dotes mais que em
todas Pródiga dispendeu a natureza
Privilégios, que mais se imortalizam
Na admiração do mundo, que os celebra.
Aonde a discrição tão igualmente
À formosura se une, que puderam
Equivocar-se da razão os triunfos
Com os troféus, que alcança a gentileza.
Por obsequiosas vítimas, atende
Verás a seu império ardendo acesas
Vivas porções de agrado disfarçadas
Nas imagens de humilde reverência.
Vê como em uniforme laço atadas
Uma, e outra vontade as leis observam,
Que no escrutínio dos afetos votam
As persuasões do gosto mais discretas.
Não domina a paixão; porque o acerto
Nos méritos, que o sacro objeto ostenta,
Os créditos procura, e autorizada
Inda a mesma eleição a si se eleva.
Não entendas que a hipérboles, ó
Musa, Avulta mais o empenho; a glória imensa
De tão sublime assunto é bem que advirtas,
Quando, pelo impossível, não compreendas.
É esta aquela Heroína, que nas sombras
Do desprezo apagando a sacra teia
De Himeneu, com zelosa vigilância
O casto Lume conservou de Vesta.
Da vaidade nas lâminas, que pinta
Do engano a pluma, vendo como cega
Idolatra a vontade os precipícios,
Do mundo as loucas ambições despreza.
A Figueiró teatro fez, aonde
De seus acertos a espaçosa idéia
Em religioso culto se estendesse,
Se dilatasse em exemplar prudência.
Da idade os vôos quando mais ativos,
Medindo os passos de mais larga esfera,
Do desafogo a impulsos se desatam,
Rêmoras.ao desejo era a modéstia.
De uma e outra virtude foi lavrando
O pedestal, em que de tantas prendas
A imagem singular se colocasse
No altar da fama ídolo da Inveja.
Assim crescendo assombro, assim banhando
De resplendor benéfico inda as mesmas
Liberdades, agora vê rendidas
As que de Amor ao jugo viu já presas.
Com sujeição gostosa vão prostrando
Os alvedrios as porções secretas
Do mais livre exercício, porque nada
A tanto império recatado seja.
Ó raro assombro, ó ínclito transunto
Daquelas, de quem sendo cópia bela,
Para glória do emprego, que autorizas
Herdas o nome, e as virtudes herdas!
Se a Teresa, se a Clara, em pio obséquio
Um claustro e outro as direções confessam:
De Clara alentas o esplendor benigno,
Vivificas a imagem de Teresa.
Ó quanta glória, ó quanto bem, ó quanta
Ventura ao grato auspício de Abadessa
Tão preclara, tão justa, e tão prudente
A Figueiró promete a eleição reta!
Vive; e o zelo ardentíssimo, em que abrasas
O coração, às portas de ouro abertas
Pela estrada do Olimpo te conduza
A cingir a Seráfica Diadema.
E tu, Musa, se a tanto assombro agora,
Muda, pasmas, por mais que a glória vejas,
Sabe que, quanto intento a decifrá-la
Tanto me dificulta o compreendê-la.
Na ocasião do oiteiro se deu o seguinte mote:
Nova luz, novo sol, e novo empenho.
SONETO
Régia ação, nobre acerto, eleição rara,
No ígneo Trono, áureo assento, culta esfera,
Vos teme, vos respeita, vos venera
Digno assunto, alta empresa, honra preclara.
Voto a fé, Templo o peito, o amor Ara,
Rende grato, ergue amante, atento espera;
Pois vos vê, vos adverte, vos pondera
Fiel Judith, Raquel bela, heróica Sara.
Viva pois, brilhe enfim, logre a vitória,
Que a voz cante, honre a Musa, aplauda o engenho
Nome eterno, igual fama, excelsa glória.
Sem sombra, sem eclipse, sem despenho
Doure o Céu, volva o plaustro, orne a memória
Nova luz, novo sol, e novo empenho?
Autor da Analise: Mayco Jhones Gomes de Souza
Nestes poemas, encontramos cortejo pela vida, exaltação da fé e do amor. Difere-se do barroco devido à organização do texto. No barroco a exaltação da fé é muito bagunçada em relação ao arcadismo, arcadismo procura reencontrar a ordem e a beleza bucólica encontrada na antiguidade.
Este texto conseguiu encontrar com perfeição o objetivo do arcadismo. Demonstran-do uma grandeza na vida, no amor utilizace termos como: Imortal e Deidade. Mostrando claramente o seu intuito.